O TREM DOIS DOIS 7

"Sentei do lado da janela. Meu companheiro de viagem era um homem bem fofinho… digo, gordinho. Incessantemente, o homem pedia comida
a aeromoça e quando ela trazia ele me perguntava:
— Oi? Você aceita?
Eu sempre dava um sorriso e dizia que não. Ele parecia ser um cara legal. Lógico, tirando a parte que ele comia igual a um Dragão e roncava mais que moto velha, era ótimo.
Depois disso, olhei para fora daquela pequena janela. Fiquei imaginado o céu… como era lindo! Tão azul, tão vivo. As nuvens branquinhas.
Confesso que a minha vontade era de pegar e comer, sempre achei que as nuvens tinham gosto de algodão-doce. Quando meu professor disse que: "As nuvens são formadas por milhões de minúsculas gotinhas de águas..." Não acreditei!
Precisava provar e comprovar ao mundo que isso não passava de um mal-entendido entre a ilusão e a ciência. Preferia continuar com minha doce ilusão de menina. Porém, eu tinha uma grande certeza. A certeza que jamais iria conseguir pegar uma nuvem com a mão. Nesse caso, continuaria sonhando. Fiquei por horas refletindo na vida. De como tudo era belo e como tudo aquilo poderia acabar em míseros segundos".

Alice Nardes, livro: O Trem Dois Dois 7.